16 de julho de 2011

Estranho fogo

É uma fábrica á muito abandonada, vazia, arquitectura com traços dos loucos anos 20.... os gloriosos anos 20 em que a sedução era cheia de glamour, deliciosa...em todos os sentidos....e que sentidos.
Cada vez que caçava e bebia era como se de a pequena morte se tratasse, um crescendo na minha garganta até ao choque final de quem não aguenta mais e cede ao bater do coração. Por hoje acabou amanhã há mais... haverá sempre mais...
Agora estou sentada num cadeirão poeirento e vislumbro, algo entediada, uma fila de corpos jovens, na chamada flor da idade, acorrentados e ajoelhados, atordoados sem saberem ao que vem nem onde estão. Fiz questão que não soubessem, nunca me agradou ver o medo nos olhos de quem bebo, réstia humana talvez...
Á medida que os séculos passam vou sofrendo da angustia do toque e da companhia, ou da falta dela neste caso.
A carne não foi feita só para ser rasgada, violentada. Sinto um fogo estranho invadir-me as entranhas, um coração que só bate na minha memória.
Foco o olhar num rapaz que parece mais desperto que o resto do grupo olha-me sem medo, o que me surpreende e me deixa alerta. Em meio segundo estou perto dele e levanto-lhe a cabeça com um dedo no queixo, olho-o nos olhos sinto-o estremecer mas não cede, sorrio levemente passo a língua pelos seus lábios em desafio, estão secos de medo mas revelam uma estranha fome.
O som da sua voz é um murmúrio, pede encarecidamente, mas com coragem, que eu acabe com ele.
Prometo-lhe que sim mas mais tarde....
Agarro na sua coleira e forço-o a levantar-se, vem de gatas a rastejar até perto do cadeirão, de um só puxão fica deitado e geme de dor.
Observo longa e demoradamente o seu corpo, toco-lhe com a ponta dos meus dedos e quem estremece agora sou eu, de surpresa, a pele está quente e a latejar e uma corrente de desejo passa por mim da cabeça aos pés e, sem pensar, beijo-lhe as pequenas feridas já começadas no pescoço, agarro-o num abraço apaixonado se é que eu ainda sei o significado da palavra paixão e bebo descontroladamente. Ele grita mas eu vou mais fundo e fico no limiar da minha própria morte.
Ouço um tambor lento, cada vez mais lento e penso se não estará na hora de me extinguir, dormir, descansar...
Mas não...rasgo a minha garganta e deixo escorrer o meu sangue para a sua boca, qual criança faminta suga e lambe todas as gotas como se de um leite vital se trata-se.
Quando decido que já sorveu mais do que suficiente afasto-o de mim e observo-o.
Fixa-me com olhos de vidro vermelhos, brilhantes de uma nova vida, ergue-se e estende-me a mão e diz: "Ensina-me".

Mandrágora

5 comentários:

  1. Oi Orquídea
    Não. :)

    É um escrito da Mandrágora, uma leitora antiga.

    Gostei muito!
    Porque não envias também alguns escritos teus?
    Beijos!

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  2. Mas envio-te para ti? Estou a preparar um blogue novo onde vou colocar as minhas palavras... depois ajudas-me a divulgar :p
    Beijos

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  3. Oi.
    Sim, podes enviar para mim.
    E claro que ajudo.
    Bjs!

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  4. http://caminhante-da-lua.blogspot.com/

    Aqui está o link... é uma pequena historia que vou desenvolver aos poucos que espero que demonstre algo de bom do que gosto de escrever... serão coisas muito pequenas...

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